CAPÍTULO 1

Uma bela jovem está sentada na areia olhando fixamente para o mar... 

Estrela pensando: O mar de tantos mares... O mar que cresce... O mar dos que padecem... O mar que renova quando deságua em outros mares... que se revolta e assusta... que se acalma e nos leva a compadecer das culpas... O mar que alimenta os sonhos de uma nova vida... de idas e vindas... de eternas lembranças... de grandes esperanças... de longas distâncias... de plácidos horizontes... De muitas vozes... de poucos ruídos... de muitos gemidos... de perdas e ganhos... de guardar segredos nunca revelados... Dos mistérios encantados... Onde brilha o luar... Onde o sol vai se deitar... 

Estrela se levanta e começa a andar pelas areias... 

Estrela: Como eu gosto desse lugar... É minha vida, aqui estão meus amigos, aqui está o mar... Meus amigos vou vê-los... 

Estrela sai correndo em direção a algumas casinhas... 

Um velho homem desce as escadas... Aparentemente está nervoso... 

Dionísio: Onde está a Estrela?

Empregada: Não sei não, senhor...

Dionísio: Como assim não sabe? Ela saiu?

Empregada: Sim senhor... Acordou bem cedo e saiu por aí, mas não sei onde ela foi...

Dionísio: Meu Deus, mais que coisa! Essa menina está muito teimosa, eu não gosto que ela se misture com essas pessoas da aldeia, são uma má influencia pra ela... Vou procurá-la, se ela tiver no meio daqueles marginais, ela vai me ouvir... Ah se vai! 

Uma jovem mal vestida está sentada na areia fazendo colares com conchas, do seu lado está um homem forte e bonito com umas redes e cestos... Estrela corre até eles... 

Fabíola: Estrela? O que faz aqui?

Estrela sorrindo: Fafá... Como vai? Eu vim ver vocês... E aí Dório?

Dório: Menina Estrela... Eu estou bem e você?

Estrela: Estou bem como sempre... O que você está fazendo Fafá?

Fabíola: Eu estou fazendo colares de conchinhas para vender... Olha só o que eu achei quando sai procurando conchas... Uma estrela do mar!

Estrela pegando a estrela do mar: Mais que linda... Dá ela pra mim?

Fabíola: Claro, eu estava guardando mesmo pra te entregar...

Dório: Seu pai sabe que você está aqui?

Estrela rindo: Não...

Dório: você não tem mesmo jeito menina... 

Muitos pescadores e mulheres passam e cumprimentam Estrela que está sentada ao lado de Fábiola na areia... Pouco depois Estrela ouve chamando por ela... 

Fabíola: Você está perdida amiga, olha quem vem ali...

Estrela olha assustada: Meu Deus, já vem meu pai...

Dionísio gritando: O que você está fazendo aqui Estrela? Eu já não a proibi!

Estrela: Pai eu só vim conversar um pouco com os meus amigos...

Dionísio: Amigos? Isso não é o tipo de amizade conveniente a você, minha filha...

Estrela: Pai não fala assim, por favor... Não seja grosseiro...

Dionísio puxando a filha pelo braço: Vamos embora daqui agora!

Estrela: Pai me solte... Eu quero ficar aqui com meus amigos...

Dionísio: Eu já disse que não quero que você fique no meio desses marginais! São uma péssima influencia para sua educação!

Dório ofendido: Me perdoe senhor, mas nós não somos marginais e muito menos pessoas más... Somos trabalhadores e ajudamos no crescimento da cidade onde o senhor é o prefeito...

Dionísio: Rapaz, por favor, não se meta na conversa que estou tendo com minha filha! Sou o pai dela e tenho direito de escolher quem se aproxima dela...

Estrela: O senhor não tem esse direito, por que eu já sou maior de idade...

Dionísio: Mas ainda depende de mim pra viver, portanto vamos pra casa agora...

Estrela: Me solte! 

Estrela sai correndo e chorando, Dório e Fabíola olham magoados, Dionísio sai nervoso... 

Dório: E em pensar que fomos nós que mais apoiamos esse senhor na sua campanha política...

Fabíola: Ele é muito cruel com a pobre da Estrela... 

 Estrela está encolhida no sofá... Seu pai para em sua frente...

Dionísio: Estrela é para o seu bem que eu faço isso, tenho medo que você se machuque se decepcione com esse tipo de gente... Você é a única coisa que me sobrou de sua mãe! A única lembrança... E eu quero cuidar de você... Eu preciso cuidar de você, lhe educando no meio de pessoas decentes pra que você seja uma...

Estrela: Pai, eu já sei o que quero, já sei quem são as pessoas boas, nas que posso confiar... Eu já sou uma mulher, já deixei de ser criança... Se eu me decepcionar irei amadurecer mais com isso, o senhor precisa me deixar crescer, me deixe viver!

Dionísio se senta ao lado dela: Não minha querida, você é muito frágil e ingênua... Eu quero o seu bem, será que você não entende seu pai...

Estrela está sentada na janela, olhando para o mar... Fabíola se aproxima da mansão e a vê... 

Fabíola: Sua louca! Você vai cair daí...

Estrela rindo: Não se preocupe, não é a primeira vez que eu me sento aqui em cima... Espera aí que eu vou descer pra falar com você...

Fabíola: Mas, seu pai...

Estrela: Eu obedeço meu pai nas coisas boas, com coisas injustas, ele pode desistir que vou desobedecê-lo sempre... 

Em poucos segundos, Estrela já está fora da mansão com a amiga...

Fabíola: Você esqueceu isso lá...

Estrela: Ah minha estrela do mar... Me desculpa é que eu fiquei muito nervosa com as grosserias do meu pai... Obrigada pela estrela, é um grande presente...

Fabíola: Seu pai lhe xingou muito?

Estrela: Veio com a mesma história de sempre, que quer me proteger, que eu sou frágil, ele sempre me diz que sou frágil como uma estrela do mar, que sou ingênua como uma criança... Ele está muito amargurado desde a morte da minha mãe, às vezes acho que tem medo de me perder, outras, penso que é egoísmo e arrogância...

Fabíola: Eu acho melhor você obedecer a seu pai... Não pode complicar sua vida por causa da gente...

Estrela: O que é isso? Eu adoro vocês, são pessoas incríveis... Admiro muito todos da aldeia, são pessoas que batalham tanto e honestamente pra se sustentar... 

Da janela de seu quarto Dionísio vê a filha com a amiga praiana... 

Dionísio: Ela não me obedece... Tenho que arrumar um jeito de separá-la dessas pessoas... A melhor maneira pra isso é que ela se case, com alguém digno de toda sua riqueza e educação, um alguém de bom nome... Mas quem?

Dionísio pega uns livros, ao abrir um, cai um cartãozinho de telefone: Meu Deus como pude esquecer de meu amigo? Xavier Alcântara, ele tem um filho jovem, simpático, estudado... Não poderia encontrar partido melhor para Estrela, eles podem se casar e este rapaz pode levar Estrela pra longe desse povo imundo, esse bando de marginais! 

Dionísio chega acompanhado de um homem bem vestido e um rapaz muito elegante e bonito...

Dionísio: Vou mandar a empregada chamar Estrela pra você conhecer rapaz...

Gustavo: Tenho certeza que sendo sua filha, será uma moça muito educada e especial...

Xavier: Com certeza...

Dionísio: Chame a Estrela pra mim... Você vai se encantar com ela Gustavo...

Empregada: Senhor me perdoe, mas a menina saiu...

Dionísio: Saiu? Foi aonde? Eu disse a ela que assim que chegasse do aeroporto queria vê-la...

Empregada: Eu não sei onde ela foi, deve ter saído pra dar umas voltas por aí, a menina adora o mar...

Dionísio sorri nervoso: Realmente, minha filha ama o mar... Mas vamos procurá-la, ou estão cansados pela viagem?

Gustavo: Não, imagina senhor, o que eu mais quero é conhecer a sua filha, que o senhor falou tão bem dela... 

Estrela está deitada na areia, enquanto sua amiga tenta vender umas saídas de banho...

Fabíola: Hoje o dia não está bom pra vendas, não vendi nenhuma...

Estrela: Vai vender uma agora, adorei esta da cor do mar... Vou comprar uma...

Fabíola: Não, não... Você é minha amiga e lhe dou de presente...

Estrela: Pois eu não vou aceitar, você me dá tantos presentes, vou acabar te falindo desse jeito...

Dório se aproxima correndo: Estrela! É melhor ir embora...

Estrela: Por quê?

Dório: Seu pai vem por aí acompanhado de dois homens... Se vir você aqui pode...

Estrela: É verdade, é melhor eu ir embora, pra não trazer problemas... Depois te pago Fafá! 

Estrela sai correndo com a saída de banho nas mãos... Gustavo que estava distante do pai e de Dionísio vê Estrela passando. 

Gustavo pensando: Nossa, que moça linda! Aqui nessa cidadezinha tem muitas mulheres lindas... Que pena que essa daí não passa de uma miserável morta de fome. Eu ficaria encantado em namorar uma preciosidade dessas, mas não, não quero que misturar com esse tipo de gente... 

Dionísio: Acho que nos desencontramos de Estrela, ou a empregada se enganou, ela deve estar em casa mesmo...

Os três entram na casa, Estrela está em frente à janela, se vira e sorri... Gustavo olha assustado...

Dionísio: Minha filha, onde você estava?

Estrela: Estava aqui mesmo, lá no meu quarto...

Dionísio: Eu não disse...

Xavier: Sua filha é encantadora...

Dionísio: Sim, muito... Estrela, esse aqui é meu amigo Xavier e este é seu filho Gustavo... Vieram pra cá passar uns dias na nossa casa...

Estrela sorrindo olhando para Gustavo: Sejam bem vindos...

Gustavo pensando: Que ironia... Eu achando que ela era uma praiana morta de fome... É a famosa Estrela...

Gustavo pegando na mão de Estrela e lhe dando um beijo no rosto: Muito prazer senhorita... 

Estrela fica completamente encantada...
 

CENAS DO PRÓXIMO CAPÍTULO:

Fabíola: Estrela! Até que enfim apareceu, andou sumida...

Estrela: Sim... Depois te conto tudo que aconteceu... Eu só queria saber uma coisa... Acho que você pode me ajudar... Tem um pescador novo aqui na aldeia?

Fabíola: O Bruno?

Estrela: Ele se chama Bruno? Bruno...

Fabíola: Sim! Ninguém sabe de onde veio ou o que fazia se é bandido ou não, mais é uma boa pessoa... Ele está morando lá em casa... Eu e o Dório estamos ajudando ele, é um forasteiro e tendo um teto pra morar ele ajuda na pesca e nas vendas... Onde você o viu?